segunda-feira, outubro 14, 2013

The people that I love don't love the comics that I love... and it hurts

Eu ainda lembro a primeira vez que vi Um Sonho de Mil Gatos. Eu havia mudado para uma escola nova após oito longos anos de bullying, estava no segundo ano do segundo grau e um colega de turma chegou com uma revista e disse: "você gosta de quadrinhos? Então você vai gostar disso aqui." Eu devorei aquela revista e li e reli aquela história durante o resto do período das aulas obcecadamente. Achei que era um one shot. Fui procurar nas bancas. E fiquei chocada quando descobri que Sandman era uma série. Eu nunca havia lido algo igual na minha vida. Procurei por edições antigas em todas as bancas que encontrava pelo caminho, em todas as bancas de jornal que encontrava, em qualquer estado em que estivesse. Procurava completar os pedaços dos quebra-cabeças dos arcos das histórias que já haviam sido publicadas e recolhidas e ninguém tinha mais. Era o começo da década de 90 e as bancas estavam recheadas de quadrinhos da Vertigo e publicações alternativas e eu deixava de comer para usar o dinheiro para comprar o que eu pudesse.

Mais ou menos nessa época eu comecei a frequentar um grupo de adolescentes na igreja católica local por diversos motivos: agradar minha mãe, conhecer gente nova, tentar qualquer coisa que pudesse me ajudar na minha eterna luta contra a depressão... E lá conheci o André, que era um colecionador de quadrinhos de verdade, do tipo que guardava cuidadosamente suas revistas em embalagens plásticas individuais e tinha estantes e mais estantes com séries completas. Eu mal pude acreditar quando ele disse que colecionava Sandman e me emprestou as revistas e eu pude ler, pela primeira vez, desde o começo, até o ponto em que estava na banca na época. Eu levava as revistas cuidadosamente na garupa da minha bicicleta e devorava cada uma, devolvendo todas sem sequer um risco a mais na capa. André um dia me levou ao centro do Rio e me apresentou não só a uma banca especializada em quadrinhos como a uma loja inteira dedicada a isso. A idéia de uma gibiteria era demais para minha mente de 15 anos. A banca tinha uma seção forrada de Akira de fora a fora e acima, edições encadernadas colecionando os primeiros volumes de Sandman. Eu não conseguia tirar os olhos daquelas edições e fazer cálculos mentais de quantos dias precisaria ficar sem comer para conseguir comprar pelo menos uma delas. Meu amigo me perguntou se eu queria e eu respondi, sem graça, que jamais teria dinheiro para pagar. Ele comprou os 4 volumes para mim. Eu chorei.

Ao longo dos anos, as editoras brasileiras pararam de publicar Sandman. Eu entrei na faculdade, casei e comecei a importar as revistas em inglês via Devir para completar minha coleção. Um misto daqueles 4 volumes, revistas muito velhinhas achadas em sebos, revistas near mint importadas do exterior, tudo muito difícil e suado de conseguir, anos de trabalho e dedicação.

Assim como essa história eu tenho outras.

Se você entrar na Amazon ou na Comixology consegue comprar Sandman completo virtualmente em segundos. A edição encadernada de luxo, impressa, completa, tá lá na Livraria Cultura. A minha coleção só tem valor pra mim.

Meu marido não liga para quadrinhos. Ele culpa a DC e a Marvel por isso. Ao longo dos anos eu tentei fazer ele ler alguma coisa. Eu dei de presente para ele uma vez Um Sonho de Mil Gatos e a edição nº8, a primeira aparição da Morte, quando fomos numa Comix. Ele nunca abriu as revistas e esqueceu que elas existiam. Eu nunca esqueci.

Meu filho de 15 anos não liga muito para ler, apesar de eu ter contado histórias para ele praticamente todas as noites da infância dele, apesar de eu ter levá-lo em várias Bienais do Livro, apesar de levá-lo a livrarias como programa regular, presenteá-lo com livros e quadrinhos, ele só sabe que Neil Gaiman é "aquele cara de quem a minha mãe gosta" e ele me pediu Maus de presente, mas apenas porque é obcecado pela 2ª Guerra Mundial. Todo o resto permanece largado. De alguma forma eu falhei feio em criar um leitor.

Eu já tive uma estante gigante forrada de quadrinhos em um apartamento. Fiz minha tese de faculdade sobre quadrinhos e internet. Sonhei quando era jovem para sonhar com isso em talvez entrar no mercado, publicar algo, criar minha própria webcomic aplicando algumas idéias que eu explorava na minha tese... Hoje, depois da última mudança eu tenho cerca de 3 caixas com quadrinhos e meu marido reclama que o apartamento não tem espaço para elas. Tanto esforço, tantas lembranças... Algumas coisas raras, também, e autografadas. Um dos autógrafos foi do Will Eisner, alguns meses antes dele morrer... Provavelmente vai tudo parar no lixo quando eu me for... mas pelo menos parte da história eu registro aqui. Enquanto o Google não decidir encerrar o Blogger e apagar tudo, sei lá. De porque essas coisas têm algum valor, ou como elas eram 20 anos atrás. 

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I still remember the first time I saw A Dream of a Thousand Cats . I had moved to a new school after eight long years of bullying , was a sophomore in high school and a classmate arrived with a book and said, "You dig comics? Then you will like this one." I devoured that comic book and read and re-read that story for the rest of the class period obsessively . At first I thought it was a one shot . I went looking for it at newsstands and was surprised when I discovered Sandman was a series. I had never read anything like it in my life . I looked for old editions in all newsstands, pawn shops, thrift stores that crossed my way, in any state they were. I sought to complete the pieces of puzzles of stories that had long been published and recalled and were impossible to find. It was the beginning of the 90s and the newsstands were filled with Vertigo comics and alternative publications and I stopped eating at school to save my lunch money to buy whatever I could with it.
Around that time I started going to a teenage catholic group at the local church for many reasons: to please my mother, meet new people and maybe they had something that could help me in my eternal struggle with depression ... And there I met André, who was a true comics collector, the kind that carefully wrapped each mint edition in plastic and had shelves and more shelves with complete comic series. I could hardly believe my ears when he said he collected Sandman and lent me the comics so I could read it for the first time since the beginning. I took them home walking in the air and devoured them all, carefully returning them without even an added speck of dust on a cover. It was such an honour! André took me one day to the center of Rio and introduced me not only to a newsstand specialized in comics as a whole store dedicated to it . The idea of ​​an entire comic book store blew my 15 years old mind. The
newsstand had a section lined with Akiraand above,trade paperbacks collecting the first four volumes of Sandman . I couldn't take my eyes away and kept making mental calculations of how many days I needed to skip food and collect lunch money to buy at least the cheaper one. My friend asked me if I wanted them and I replied, embarrassed, that I would never have enough money to afford them. And then he bought the four volumes to me. I cried.
Over the years, the Brazilian publishers stopped publishing Sandman. I went to college, got married and started importing American comics via Devir to complete my collection. A mix of those first four volumes, very shabby comics found in thrift stands and near mint imported comics from abroad forms the 75 comics of my Sandman collection. It was very difficult to achieve, took years of hard work, sweat and dedication.
I have many other histories like this one.
If you go on Amazon or Comixology, you can buy the complete Sandman right now in seconds. You can buy the
definitive printed edition in your favorite bookstore. There's a beautiful leathery deluxe one too. 
My collection only has value to me.
My husband does not care for comics. He blames DC and Marvel for this. Over the years I tried to make him at least read something. I gave to him once A Dream of a Thousand Cats and issue #8 , Death's first appearance, when we were in a convention called Comix. He never unwrapped the comics. He forgot they existed. I never forgot .
My 15 year old son does not care about reading, although I have read him stories almost every night of his childhood, though I took him to so many
Book Biennials full of attractions,despite taking him regularly to bookstores as a fun activity and gifting him with books and comics. He only knows that Neil Gaiman is "that guy mom likes" and he asked me to buy him Maus, but only because he's obsessed with WWII. Everything else remains untouched. Somehow I failed to create a reader. Kudos to me.
I've had a shelf lined with comics in many an apartment. I did my college thesis on comics and internet. I dreamed when I was young enough to dream I might work on comics, publish something, create my own webcomics applying some ideas that I explored in my thesis ... Today, after the last time we moved I have about 3 boxes of comics and my husband complains that the apartment does not have room for them . So much effort, so many memories ... Some rare stuff, too, and autographed. One of the autographs was Will Eisner's a few months before he died ... Probably it will all will end in the trash when I'm dead myself... but I don't want the history of why I had these things or why they were important die with me. That's why I'm writing here. It'll keep at least for the time Google does not decide to terminate Blogger and delete everything here. Because some of these things have some value, at least for the heart, or at the very last to show how things were 20 years ago.